Zé Miguel
Na ponta dos
pés
Meu coração
estica-se
Por sobre o
muro da incompreensão
Para ver do
outro lado
Onde
agonizante desespero
Flagela o
outro ser em desatino
Queda-se
amargo ao peso da culpa
Penitencia-se
na sua própria dor
Estica ainda
mais os olhos
Para tentar
ver
A extensão
do seu inocente
Mas mortal
veneno
Fustiga
ainda mais a própria penitencia
E sangra por
todos os poros da alma
No outro
lado o desespero clama
Por um
caminho que o conduza à calma
A dor
insuportável que me assola
E reprimida
não se manifesta
Vitrifica a
lágrima que não rola
Sufocando o
soluço natimorto
No
desconforto de cada amanhecer
Que inverno
triste este que ora vivo
Triste o
futuro que ora antevejo
Embora por
princípio Dante aceito
Inda recuse
abrir meu próprio cortejo
Eu cada vez
solitário espreito
Outros
sofreres e suas individualidades
Personalizado
ou não o sofrimento
É sempre
mais do que desconcertante
E só quem
sofre sabe a dor que sente
O olhar
culpado meu por sobre o muro
Esbanja
acusações que verdadeiras são
Percebo sem
esboçar qualquer reação
As pedras
atiradas sobre mim
Na minha
direção
Por minha
própria consciência
Não sei...
Confesso que não sei
Até que
ponto vale a resistência
Que ainda
conduz os meus cansados pés
Meu
solitário e cansado coração